terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Os desafios para ensinar e aprender, valendo-se da experiência e do Racionalismo Crítico em Dewey e Popper: dois métodos no ensino – aprendizagem

1. Introdução


Pretende-se com este ensaio analisar o pensamento de dois pensadores que com o seu pensamento influenciaram e influenciam o passado e o presente e na perspectiva que desenrola este ensaio podem ser um grande contributo para o futuro da Educação aqui em Moçambique, de modo que seja mais participativo e mais proactivo, Dewey com o seu método pragmático ou melhor instrumentalismo e Popper com o seu falsificacionismo.
Enquanto John Dewey (1859-1952), americano, mas de família proveniente da Inglaterra e professando a fé congregacionalista. Passou toda a sua vida no mundo americano e o seu pensamento podemos dizer que é forjado dentro da família e na Igreja. Senão vejamos: os congregacionalistas defendiam a autonomia para os membros de suas igrejas, não havia ordem hierárquica para nortear as relações dos fiéis. Havia um Espírito de Igualdade, os ministros eram eleitos, o que poderíamos interpretar como uma forma de democracia religiosa. Instigavam a presença de Cristo nos indivíduos para que então a consequência fosse a solidariedade. Podemos dizer que, da religião, o que influenciou Dewey não foi tanto a teologia, mas experiência democrática e igualitária vivenciada na comunidade. Outro elemento que contribuiu para o forjamento do pensamento de Dewey é o facto de na sua família cultivava-se o hábito de atribuir pequenas tarefas às crianças, com o intuito de despertar-lhes responsabilidade (CUNHA, 1998).
Entretanto Karl Popper (1902-1994), Austríaco, os seus dados bibliográficos apontam que 1937 emigrou para a Nova Zelândia e em 1946 foi viver para Inglaterra até a sua morte. Educado na Universidade de Viena, cedo começou a participar no Círculo de Viena e activista socialista que contestava a esquerda austríaca no conturbado Pós-guerra. É neste ambiente de socialista, de um emigrante e sobretudo do circulo de Viena que se forja o pensamento de Popper. O Círculo de Viena orientava-se pelo liberalismo: as ideias iluministas, o empirismo, o utilitarismo, o espírito antímetafísico e o movimento do livre comércio na Inglaterra. Defendiam que o método científico era indutivo. Partindo-se de enunciados singulares, resultantes de descrições de observações, chega-se (induz-se) enunciados universais. É contra este método da indução que Popper vai criticar, dizendo que não é o método das Ciências. Critica também o materialismo histórico ou o historicismo de Marx. Não se deve deixar de salientar que o seu trabalho científico foi influenciado pelo seu estudo da teoria da relatividade de Albert Einstein (HACOYEN, 2000).
Partindo das percepções acima apresentadas, prende-se realizar uma discussão e confrontação entre Dewey e Popper dois teóricos da Educação: Dewey que diz que o conhecimento provém da experiência e Popper que diz não nenhuma verdade é absoluta, tudo deve ser submetido a sua teoria da falsificabilidade. Propondo a análise de duas categorias: a experiência e a reflexão, essenciais para a prática da democracia e da liberdade no ensino - aprendizagem e na sociedade, tornando o ensino reflexivo – prático.
A apresentação destes autores aparece como contributo ao nosso ensino em Moçambique para que seja proactivo, pois é frequente ouvir-se que o contributo dos formandos faz-se sentir pouco na vida prática. Inclusive, o próprio governo tem enfatizado na necessidade de incidir no carácter prático do ensino, deixando entender, indirectamente, que o actual ensino é muito teórico. Acusa-se que os estudantes são formados a serem empregados do que empregadores. São poucos empreendedores. O problema torna-se mais grave quanto mais se consideram os estudantes muito apegados à teoria, ignorando o lado prático, enquanto outros muito apegados à prática sem conseguir fazer um entrosamento dos dois pólos de conhecimento. Acredita-se como solução que, a associação dos dois tipos de conhecimento, o teórico e o prático, ajudará a mudar muita coisa no seio da nossa sociedade, sobretudo no que diz respeito à integração no mercado sócio-económico. Não se explica que com tantos quadros que começam a surgir em Moçambique se esteja muito longe de encontrar soluções adequadas para a crítica situação sócio-económica em que o País se encontra.
A política económica do governo define a agricultura como o principal vector do desenvolvimento e fonte de riqueza de Moçambique: “As acções no sector da agricultura são preponderantes para o alcance do objectivo do Governo de reduzir a pobreza absoluta no país, dado que é o sector predominante nas zonas rurais, onde se registam os maiores índices de pobreza absoluta” (GOVERNO DE MOÇAMBIQUE, 2006: nº 523). A terra não nos falta. Em princípio, quem deve ajudar o povo a produzir, deveriam ser os nossos agrónomos. Se não o fazem, poder-se-á, concluir que há um défice na sua formação? Não necessariamente, pois há outros factores envolvidos.

2. Dewey: Escola Activa e democrática pelo conceito da experiência

John Dewey aponta o método científico como o principal instrumento ao serviço do conhecimento que deve exigir, de quem o deseja, esforço, dedicação e a procura sistemática. A adopção desse instrumento justifica-se por duas razões principais: a primeira liga-se ao facto de o método afirmar que não temos “direito por direito” de chamar alguma coisa de conhecimento, excepto quando a nossa actividade produziu mudanças físicas nas coisas, as quais concordam com a concepção adoptada e a confirmam. Ao contrário, os conhecimentos que dizemos possuir, não passam de hipóteses, conjecturas e sugestões.
A segunda razão que justifica a adopção do método científico é que o pensamento é útil exactamente no grau em que a previsão de consequências futuras é feita baseada na observação completa das condições presentes. Ocorre que isto exige muito dos homens quando eles ainda querem o apoio do dogma, das crenças impostas pela autoridade, para se livrarem do embaraço de ter de pensar e responsabilidade de dirigir sua actividade pela reflexão. É por essa razão que as escolas mais se prestam a formar discípulos dos pesquisadores.
Mas é certo que todo o progresso da influência no método experimental contribui para o descrédito dos métodos puramente literários, dialécticos ou de imposição pela autoridade. É assim que Dewey procura colocar ao serviço da educação e do ensino a sua metodologia: a compreensão científico-instrumental da realidade, tendo como objectivo superar a dicotomia entre a teoria e a prática.
Paralelamente ao reconhecimento de que os homens têm dificuldades para adoptar o método científico, Dewey declara falta de liberdade económica da maioria, exposta na divisão entre classes trabalhadoras e não trabalhadoras. Isto reduz muitos homens à condição servil. A partir disso, Dewey pensa a liberdade na escola que foi a instituição que patenteou com maior clareza o antagonismo que se presumia existir entre os métodos de ensino puramente individualistas e a actividade social, e entre a liberdade e a disciplina social.
O antagonismo deve-se à ausência de ambiente e motivos sociais para aprender, e na consequente separação na prática escolar entre o método do ensino e métodos da administração.
Dewey manifesta-se contrário à ideia de que o indivíduo é a realidade mais essencial, por não ser resultado da educação científica e moralmente sólida. O individualismo decorrente é fruto do afrouxamento da compreensão da autoridade dos costumes e tradições como padrões de crenças e certezas.
Preocupado com a tensa relação entre disciplina e liberdade, expõe a problemática a partir da reflexão em torno do ordenamento lógico do pensamento. Toma como ponto de partida duas concepções diferentes: uma que considera essencial a disciplina e outra que tem liberdade na organização dos processos formativos.
O autor entende que cada uma delas tem noção errada do que significa o princípio que professa. Dewey diz que “a disciplina pode ser identificada: aos actos mecânicos que têm por fim embutir com repetidas pancadas, uma substância estranha num material resistente, ou comparável à rotina maquinal com que se emprestam a bisonhos recrutas o porte e os hábitos marciais que lhes eram, como de esperar, totalmente alheios” (DEWEY, 1959: 92).
Para Dewey esta reflexão aponta a direcção contrária à disciplina mental, pois o objectivo, nesse caso, não é desenvolver o hábito de pensar, mas atingir maneiras de agir uniforme. Para Dewey a disciplina é positiva e construtivista. Disto se depreende que Dewey desafie a disciplina a sair de si mesma e a concretizar-se num outro, diferente de si, a concretizar-se numa acção não só mental, mas também pragmática. Portanto, ele fala de uma abertura pragmática que implica uma conjugação multiforme dos saberes.
Na perspectiva da formação da liberdade intelectual, Dewey desenvolve uma reflexão actualizada sobre interesse e disciplina, ao discutir a tese de que disciplinado é o indivíduo que se forma aprendendo a exercitar a reflexão sobre as suas acções e empreendê-las de maneira resoluta.

Disciplina significa o domínio dos recursos disponíveis para levar em diante a actividade empreendida. Saber o que se deve fazer e fazê-lo prontamente e com a utilidade dos meios requeridos, significa ser disciplinado. A disciplina positiva é uma afirmação que permite concluir que não há valor educativo em actos impostos ou nos exercícios externos como domar as propensões, compelir à obediência, mortificar a carne, fazer um subalterno executar um trabalho desagradável, a menos que desenvolvidas na perspectiva da compreensão do que se tem em vista (DEWEY, 1979: 141).”

Dewey fala da necessidade de evitar os preconceitos, a arrogância do saber tido certo, é preciso ter o “espírito aberto”. Esta ideia pode ser definida como independência de preconceitos, de partidarismo e de outros hábitos como o de cerrar a mente e indispô-la à consideração de novos problemas e novas ideias.

“A indolência mental concorre grandemente para que se entaipe o espírito contra ideias novas. E bem penoso trabalho é de alterar velhas crenças. Medos inconscientes também arrastam-nos a atitudes puramente defensivos, que funcionam como cota de armas, não apenas para barrar novas concepções, mas para impedir a nós próprios o acesso à nova observação. O efeito cumulativo dessas forças é o de enclausurar o espírito e promover o afastamento de novos contactos intelectuais, necessários à aprendizagem” (DEWEY, 1959: 39).

Pode-se concluir, que para Dewey, só haverá uma verdadeira aprendizagem, se houver uma metodologia que estimule o aluno. O pensamento deve ser liberal, ou por outra, deve ser uma escola democrática que ajuda o aluno no desenvolvimento da capacidade de raciocínio e espírito crítico. Nisto, o professor deve ser um mero tutor, um facilitador na aprendizagem, devendo possibilitar escolhas e soluções criativas. É preciso problematizar o ensino, que leve o aluno a uma aprendizagem significativa, pois o mesmo utiliza diferentes processos mentais e desenvolve a capacidade de assumir a responsabilidade pela sua formação.
A educação não se deveria restringir ao ensino do conhecimento como algo acabado, mas o saber e a habilidade adquiridos pelo aluno deveriam poder ser integrados à sua vida como cidadão, pessoa e ser humano. Devia ser uma educação progressiva, mais pragmática, concreta que o projecta ao empreendedorismo e ao mercado de emprego.
A origem da ciência está nos problemas que estão associados à explicação de comportamento de alguns aspectos do mundo. As hipóteses são criticadas e comprovadas. O método de aprendizagem por solução de problemas tem os seus alicerces no pragmatismo de John Dewey. Este filósofo estava interessado em que o ensino não fosse teórico, mas respondesse aos problemas concretos do estudante. Fala duma escola democrática em que o estudante é o protagonista do seu saber. O estudante deve aprender a aprender. O princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. O conhecimento só é possível partindo da experiência.
Dewey defende as actividades manuais, já que as mesmas apresentam situações concretas para serem resolvidas. E além do mais desenvolve o espírito de trabalho em equipa, pois através da divisão de tarefas entre os estudantes, se estimula a cooperação e consequentemente se desenvolve o espírito social (DEWEY, 1980: 27). O estudante é o fazedor do seu próprio processo de aprendizagem. É este aspecto pelo qual o método cativa algumas instituições do ensino superior, disseminando-se em muitas instituições de educação.
A origem da ciência está nos problemas que estão associados à explicação de comportamento de alguns aspectos do mundo. As hipóteses são criticadas e comprovadas. O método de aprendizagem por solução de problemas tem os seus alicerces no pragmatismo de John Dewey. Este filósofo estava interessado em que o ensino não fosse teórico, mas respondesse aos problemas concretos do estudante. Fala duma escola democrática em que o estudante é o protagonista do seu saber. O estudante deve aprender a aprender. O princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. O conhecimento só é possível partindo da experiência.
Dewey defende as actividades manuais, já que as mesmas apresentam situações concretas para serem resolvidas. E além do mais desenvolve o espírito de trabalho em equipa, pois através da divisão de tarefas entre os estudantes, se estimula a cooperação e consequentemente se desenvolve o espírito social (DEWEY, 1980: 27). Tornar o estudante  fazedor do seu próprio processo de aprendizagem. Neste sentido, o pragmatismo aparece como o método que valoriza a experiência como ponto de partida para o conhecimento. As concepções preliminares são contextualizadas na prática, daí que se define o pragmatismo como doutrina que propõe um método para determinar o significado dos termos fundamentais da linguagem a partir da sua contextualização prática. Entre os mentores desta doutrina sobressai John Dewey, que prefere chamar a sua filosofia de instrumentalismo e não pragmatismo. Ele diz que:

“Nas ciências naturais há uma união entre experiência e natureza que não é recebida como monstruosidade; pelo contrário, o pesquisador é obrigado a utilizar o método empírico para que os resultados da pesquisa sejam considerados genuinamente científicos. O pesquisador assume como ponto pacífico que a experiência, controlada de maneira específica, é avenida que conduz aos factos e às leis da natureza” (DEWEY, 1980: 3s).

O princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. A aprendizagem se dá quando compartilhamos experiências, e isso só é possível num ambiente democrático, onde não haja barreiras ao intercâmbio do pensamento. O conhecimento só é possível partindo da experiência.
Dewey defende as actividades manuais, já que as mesmas apresentam situações-problemas concretos para serem resolvidos. E além do mais desenvolve o espírito de se trabalhar em equipa, pois através da divisão de tarefas entre os participantes, se estimula a cooperação e, consequentemente, se desenvolve o espírito social. Para Dewey, a experiência ajuda a alargar os nossos conhecimentos, “enriquece o nosso espírito” e dá, ao nosso quotidiano, um significado mais profundo da nossa vida (DEWEY, 1980: 116). Segundo Dewey, a iniciativa e a independência levam à autonomia que na realidade são virtudes de uma sociedade realmente democrática, ao contrário do ensino tradicional que valoriza a obediência. Mas para que isso se torne realidade nas escolas, é necessário repensar os métodos educacionais utilizados pelos professores na sala de aula e na formação dos mesmos.
Há uma necessidade de reflectir sobre as metodologias adoptadas. Salienta que “logo, para dirigir o processo educativo devemos saber: 1.º) como aprendermos; 2.º) como o que aprendemos refaz e reorganiza a nossa vida; 3.º) em que consiste uma vida melhor, mais rica e mais bela” (DEWEY, 1980: 127).
Dewey investigou a experiência em seu aspecto essencialmente dinâmico: toda a experiência modificada ocorre pelo meio, concepção que leva o autor a admitir a existência de processo contínuo de criação de conexões e continuidades, propiciando permanentes recriações dos elementos envolvidos.
Defensor da Escola Activa, Dewey apontou a importância da aprendizagem partindo da experiência. Da crítica à escola tradicional, instauradora de comportamentos de submissão e obediência, o autor propôs uma inversão de valores que considerasse iniciativa, originalidade e cooperação, possibilitando a libertação das potencialidades críticas do indivíduo, objectivando não a mudança social, mas o aperfeiçoamento.
Dewey desenvolveu teorias pedagógicas progressistas, particularmente em relação à inserção do estudante, sujeito no processo de aprendizagem, à discussão em torno da importância fundamental da democracia na organização social e à defesa da escola pública.
Das suas concepções, Dewey desenvolve um método de compreensão da realidade denominado instrumentalismo: “o que leva o homem ao conhecimento não é um fim em si mesmo, mas a necessidade de apropriação da realidade. O pensamento não é, em última instância, saber, mas apropriação instrumental para ter domínio sobre as coisas. O meio impõe dificuldades, mas o pensamento humano serve de instrumento à sua adaptação” (DEWEY, 1980: 128ss).
A verdade, a razão da busca do pensamento, é o que leva o homem a superar problemas, bases que fazem Dewey produzir ampla reflexão política, particularmente em relação aos fundamentos filosóficos, que justificam a valorização da experiência educativa e sobretudo a ligação quase intrínseca entre a vida, a experiência e a aprendizagem.


3. Popper: Dos Problemas ao racionalismo crítico

Popper demonstrou que toda a ciência é baseada em conjecturas, de hipóteses que tentamos confirmar mas também refutar. A ciência não é verdadeira, mas conjecturável. Uma experiência cujo resultado é previsto por uma teoria, não prova a exactidão dessa teoria, mas apenas se limita a não a refutar. A confirmação experimental não serve como prova de verdade, dado que pode estar a ser omitida uma excepção fundamental. Encontrar uma única excepção é, todavia, o bastante para reprovar - ou falsear -uma teoria. Uma teoria só é científica se a pudermos refutar. A principal tarefa de um cientista não é pois o de justificar ou provar as suas teses, mas sim o de as testar de forma a detectar ou eliminar falhas ou erros que possam conter (testabilidade), ou submetê-las a tentativas de refutação (falsificabilidade). Só através de um racionalismo crítico e aberto se dá, segundo Popper, o progresso no conhecimento científico.
Enquanto para Popper o problema central da filosofia reduz-se em grande parte àquilo que designa de “problema de demarcação”, isto é, a tentativa de estabelecer um critério que permita distinguir as teorias científicas da metafísica e pseudo-ciência. Popper refere claramente que o problema que o preocupa não é determinar quando é verdadeira ou aceitável uma teoria, mas, sim, distinguir a ciência da pseudo-ciência, sabendo muito bem que por vezes a ciência erra e a pseudo-ciência acerta.
A ciência distingue-se da pseudo-ciência ou da metafísica pelo seu método empírico, que é essencialmente indutivo, isto é, que parte da observação ou da experimentação. Para Popper uma teoria que não é susceptível de refutação não é considerada científica. A irrefutabilidade não é uma virtude mas sim é um vício. Neste sentido a testabilidade equivale a refutabilidade. O critério de refutabilidade imposto por Popper consiste em traçar uma linha divisória entre o discurso científico e outros tipos de conhecimentos.
As afirmações de carácter metafísico não possuem estatuto científico na medida em que não são susceptíveis de ser falsificadas, o seu carácter de sentido ou significação não é posto em causa. É este facto que nos permite diferenciar Popper das posições assumidas pelos autores do positivismo lógico. A ciência progride graças ao ensaio e ao erro, às conjecturas e refutações. Com isto Popper distancia-se do método instrumentalista que quer apresentar-se como acabado e completo.
O método da ciência é o método de conjecturas audazes e engenhosas seguidas de tentativas rigorosas de falseá-las. Segundo o falsificacionismo, pode-se demonstrar que algumas teorias são falsas recorrendo aos resultados da observação e experimentação.
O falsificacionista considera que a ciência é um conjunto de hipóteses que se propõem a modo do ensaio com o propósito de descobrir ou explicar de modo preciso o comportamento de algum aspecto do mundo ou universo.
As teorias que tenham sido falsificadas têm de ser rejeitadas, visto que, como afirma Popper, ao descobrimos que a nossa conjectura era falsa, aprendemos muito sobre a verdade e chegaremos mais perto dela. Aprendemos com os nossos erros, pois a ciência progride mediante o ensaio e o erro.
A ciência começa com problemas, problemas que estão associados à explicação de comportamentos de alguns aspectos do mundo. O cientista propõe hipóteses falsificáveis para solucionar os problemas. As hipóteses são criticadas e comprovadas. Popper acredita que o papel do filósofo, assim como do cientista, seja o de solucionar problemas em vez de falar sobre a filosofia. Filósofos devem filosofar.
Há uma condição fundamental para que qualquer hipótese tenha o estatuto de teoria científica, essa teoria tem de ser falsificável. Uma teoria ou lei científica é falsificada justamente porque faz afirmações definidas acerca do mundo. Por isso nunca se pode afirmar que uma teoria é verdadeira, por muitas provas rigorosas que tenha superado, somente podemos afirmar que a teoria em vigor é superior as predecessoras.
No dizer de Popper só há um caminho para a ciência: encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonar-se por ele, casar e viver feliz com ele até que a morte nos separe, a não ser que obtenhamos uma solução.
A afirmação de que a origem da ciência está nos problemas é perfeitamente compatível com a prioridade das teorias sobre a observação e os enunciados observáveis. A ciência não começa com a pura observação. A concepção falsificacionista proporciona uma imagem dinâmica da ciência. O falsificacionista reconhece as limitações da indução e a subordinação.
Para este filósofo, para que se chegue a um princípio científico válido é necessário que se verifique a hipótese apresentada (POPPER, 1975: 278). Para isso, é necessário experimenta-la. Para ele, a ciência é invenção de hipóteses; e a experiência desempenha o papel de controlo das teorias (VERDONE, 1999: 37). Popper faz-nos perceber o quão é tão necessária a junção entre a teoria e a prática para se chegar a um conhecimento altamente eficaz; tudo isto com o objectivo de mostrar a relação estrita existente entre teoria e a prática, a necessidade da teoria e do agir prático para se chegar à produção de uma verdade válida universalmente. Popper afirma que uma teoria será uma verdade científica enquanto não for negada – falseada. Mas precisa, por isso mesmo, apresentar a possibilidade de ser negada, como condição para ser científica. Assim, toda verdade científica é uma verdade provisória, que precisa ser testada. E enquanto tais testes não forem capazes de negá-la, ela continuará sendo uma verdade sem, contudo, “se livrar” da possibilidade de ser, a qualquer tempo, negada. No modelo popperiano, teste é experimentação. Ciência, portanto, é teoria mais experimentação. Sua preocupação é eliminar da ciência o psicologismo indutivista, buscando explicar os fenómenos, não descobrir a verdade por trás deles, como queria, por exemplo, o Circulo de Viena. Para Popper, a ciência não pode nem partir da verdade absoluta, nem a ela chegar como resultado de suas investidas. Contudo, isso não a impossibilita como forma de produzir conhecimento de procurar é a verdade demonstrada (POPPER, 1975: 300).



4. Dewey e Popper: considerações finais sobre o conceito experiência e racionalismo crítico


Concluindo, tanto o pragmatismo como o falsificasionismo convidam a uma reflexão sobre a metodologia usada para o ensino - aprendizagem.
Com a sua teoria da falsificabilidade ou princípio da falsificabilidade Popper faz-nos entender melhor a conjugação entre a ideia ou teoria com o agir prático. Popper nos inspira à urgência de termos um ensino crítico, reflexivo, avaliativo e experimental, como forma de poder-se chegar a uma aprendizagem que capacite o estudante a, com muita facilidade e eficácia, ser capaz de responder aos desafios actuais da humanidade. Para o estudante, nenhum conhecimento, nenhuma verdade científica que seja, deve constituir o fim e o saber absoluto, mas deve, sim, conduzir a uma pesquisa, a uma investigação ininterrupta, deve suscitar crítica e reflexão, com o objectivo de se chegar a uma verdade que o torna apto para contribuir proactivamente para a sua sociedade.
A descrição acima permite afirmar que o tempo e o espaço condicionam as tendências pedagógicas. As pedagogias devem responder às necessidades existenciais do ser humano, sob o risco de estarem desenquadradas. A pedagogia não é um processo acabado. Este trabalho é uma provocação para uma reflexão constante dos métodos usados na aprendizagem.
De acordo com Dewey podemos definir educação como processo de reconstrução e reorganização da experiência e com isso nos habilitamos  a melhor dirigir o curso de nossas experiências futuras. A continua reorganização e reconstrução  da experiência constitui o mais particular da vida humana. Essa reconstrução em que consiste a educação tem por fim melhorar pela inteligência a qualidade da experiência. Analisando-a mentalmente, percebendo as relações que ela nos desvenda, ganhamos os conhecimentos necessários para dirigir, com mais segurança, nossas experiências futuras.
Considera-se que, conhecimento, experiência, educação não é, preparação nem conformidade, é vida. E viver é desenvolver-se, é crescer. O processo educativo, portanto, não tendo outro fim alem de si mesmo, é o processo de continua reorganização, reconstrução e transformação da vida. O hábito de aprender directamente da própria vida é fazer que as condições da vida sejam tais que todos aprendam no processo de viver, é o produto mais valioso que a escola pode alcançar. Toda a teoria de educação de Dewey insiste, como ponto principal, na restituição da aprendizagem ao carácter natural que ela tem na vida.
Para Popper a ciência começa com problemas, problemas que estão associados à explicação de comportamento de alguns aspectos do mundo. O cientista propõe hipóteses falsificáveis para solucionar os problemas. As hipóteses são criticadas e comprovadas. Acredita que o papel do filósofo, assim como do cientista, deve ser de solucionar problemas em vez de falar sobre a filosofia. Filósofos devem filosofar. Podemos então dizer que o racionalismo é uma atitude de predisposição para ouvir raciocínios críticos e aprender com a experiência.
Popper acredita que o papel de filósofo assim como do cientista é o de solucionar os problemas em vez de falar sobre a filosofia ou ciência. A filosofia começa com problemas e deve responder aos problemas.
A origem da ciência está nos problemas que estão associados à explicação de comportamento de alguns aspectos do mundo. As hipóteses são criticadas e comprovadas. O pragmatismo de John Dewey, ressalva o facto de o ensino não ser mais teórico, mas que  responda aos problemas concretos do estudante. Fala duma escola democrática em que o estudante é o protagonista do seu saber. O estudante deve aprender a aprender. O princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. O conhecimento só é possível partindo da experiência.
Dewey defende as actividades manuais, já que as mesmas apresentam situações concretas para serem resolvidas. E além do mais desenvolve o espírito de trabalho em equipa, pois através da divisão de tarefas entre os estudantes, se estimula a cooperação e consequentemente se desenvolve o espírito social (DEWEY, 1980: 27). O estudante é o fazedor do seu próprio processo de aprendizagem. É este aspecto pelo qual o método cativa algumas instituições do ensino superior, disseminando-se em muitas instituições de educação.
Popper leva-nos a aprofundar mais os nossos conhecimentos. Para ele a ciência só progride mediante o ensaio e o erro. O estudante é participante da sua aprendizagem.

“Podemos então dizer que o racionalismo é uma atitude de predisposição para ouvir raciocínios críticos e aprender com a experiência. É fundamentalmente uma atitude em que se admite que eu posso estar errado e tu podes estar certo, e com um esforço, poderemos aproximar-nos da verdade (POPPER, 1962: 222).”

Estes autores conduzem-nos à síntese dos dois modos de aprendizagem, visto que nenhuma verdade é absoluta. Assim sendo, nem a aprendizagem prática em si e nem a aprendizagem teórica em si, mas optaremos pela conexão entre as duas. Desmitificando, deste modo os que associam o ensino somente a teoria ou a prática, porque tanto uma como outra levam-nos ao reducionismo.

Utilitarismo em John Stuart Mill

Resumo

            O utilitarismo apresenta-se como uma doutrina filosófica que preconiza em primeiro lugar o prazer e procura eliminar todas as formas, tudo o que constitui dor. A corrente utilitarista foi desenvolvida e fundamentada pelo filósofo, ecónomo, político inglês John Stuart Mill.
            O Fundamento último do utiltarismo é o princípio da utilidade. Segundo esta concepção, uma acção é considerada correcta, logo válida, se ela promover maior felicidade dos implicados. A felicidade é entendida como o alcance do prazer e do bem-estar.
            Nesta corrente encontramos uma perspectiva eudamonista e hedonista, uma vez que tem em vista como objectivo final a felicidade que consiste no prazer. Para os utilitaristas o que importa são as consequências das acções, elas devem visar o prazer, e somente isso permite avaliar se uma acção é correcta ou não, logo é uma perspectiva consequencialista.
Palavras chaves: utilitarismo, felicidade, prazer, dor

1. Introdução

            No presente trabalho, pretendemos abordar a ética em John Stuart Mill e duma forma particular o utilitarismo na sua concepção. A nossa intenção é clarificar de onde vêm os fundamentos do utilitarismo em Mill e sobretudo como o utilitarismo é concebido e fundamentado neste autor. Pretendemos ainda verificar quais foram os impactos da visão utilitarista de Mill na sua época e mesmo posteriormente, mas com mais ênfase na actualidade.
            Refira-se que John Stuart Mill foi dos mais importantes filósofos e reformistas sociais do século XIX. Firmente empiricista e naturalista, desenvolveu o utilitarismo de Bentham (1748 - 1832)[1] e deu-lhe um rosto sofisticado. Para compreender melhor Mill, suas idéias e contribuições, é necessário que se conheça um pouco de sua vida e que se leve em conta a sua educação, o período em que viveu, suas amizades, as influências que recebeu e suas actividades.
            John Stuart Mill nasceu em Londres, no dia 20 de Maio de 1806, portanto, em plena fase de industrialização da Inglaterra, sendo o primeiro filho do filósofo escocês radicado na Inglaterra James Mill. Mill foi educado pelo Pai, com a assistência de Jeremy Benthan e Francis Place, sendo-lhe dada uma educação muito rigorosa e ele foi deliberamente escudado de rapazes da sua idade. O seu pai, um seguidor de Bentham e um aderente ao associativismo[2], tinha como objectivo explícito criar um génio intelectual que iria assegurar a causa do utilitarismo e a sua implementação após a morte dele e de Bentham. James Mill concordava com a visão de John Lock a respeito da mente humana como uma folha em branco para o registo das experiências e por isso prometeu estabelecer quais experiências preencheriam a mente do seu filho, empreendendo um rigoroso programa de aulas particulares.
            Aos três anos foi submetido ao estudo do grego, seguindo-se depois o latim, matemática e filosofia. Aos 11 anos ajudou ao pai na revisão da sua mais importante obra sobre a história da India e aos 13 anos deu início aos seus estudos de economia, lendo Adam Smith e David Ricardo. Aos 14 anos, na França, prosseguiu os seus estudos incluindo química, biologia, cálculos diferenciais e botânica. Ao voltar a Inglaterra, em 1821, começou a estudar direito e entra em contacto mais directo com as obras de Jeremy Bentham.
            Aos 18 anos, descreveu a si memo como uma “máquina lógica” e, aos 21, sofreu uma depressão profunda, levou muitos anos para recuperar a auto-estima.
            Em 1822 foi convidado a trabalhar na companhia das Indias Orientais. Em 1830 conheceu Harriet Hardy Taylor, defensora dos direitos da mulher, a quem se apaixonou quase imediatamente, uma vez que ela era casada, somente veio a casar-se 21 anos depois, quando ficou viúva. Mas o casamento somente veio a durar 7 anos por ocasião da morte da esposa. A influência de Harriet nas idéias e obras de Mill foi bastante acentuada.
            Desgostoso com o falecimennto da sua esposa e o fechamento da companhia das Indias Orientais, foi novamente para a França em 1830, onde voltou tempo depois desposto a concorrer uma cadeira no parlamento.
            Mill foi amigo pessoal de Ricardo, Bentham e Augusto Comte, todos eles vieram a influenciar de certa maneira o pensamento de Mill. De 1865 a 1868 ocupou uma cadeira no parlamento Inglês. Veio a falecer no dia 08 de Maio de 1873 no mesmo local do nascimento. Até este ano, o processo da industrialização da Inglaterra encontrava-se consolidado.
            As suas principais obras são: Sistema de Lógica (1843), Princípios da Economia Política (1848), Sobre a Liberdade (1859), Considerações acerca do Governo Representativo (1861) e A Subordinação das Mulheres (1869).

2. Visão geral sobre o utilitarismo


            De acordo com o dicionário de filosofia, o utilitarismo é uma tradição que remonta a Hobbes e que se inspira em Epicuro, é uma doutrina que coloca a utilidade como princípio de actividade do ponto de vista moral: “a moral utilitarista é a teoria racional que permite determinar as técnicas que asseguram o máximo de felicidade” (DUROZOI & ROuSSEl 2000: 300). Segundo Mondim, para os epicuristas “a felicidade é a vida pacífica, ausência de qualquer peocupação (ataraxia)” (MONDIM, 2006: 111). Ainda segundo Mondim, o utilitarismo toma como critério supremo da moralidade o útil, o interesse de cada um e tem como representante Thomas Hobbes, e o utilitarismo altruístico ou social que faz valer o interesse, a vantagem da colectividade e tem como expoentes máximos Bacon, Locke, Mill e Russel. Segundo o dicionário de filosofia, o utilitarismo de John Stuart Mill remonta da doutrina de Bentham a qual se reduz a um cálculo egoísta da maior quantidade possível de felicidade individual, o que conduz a visar o máximo da felicidade para o maior número de indíviduos, como afirma o próprio Bentham citado por Nacir: “por princípio da utilidade, entendemos o princípio segundo o qual toda a acção, qualquer que seja, deve ser aprovada ou rejeitada em função da tendência de aumentar ou reduzir o bem estar das partes afectadas” (BENTHAM, 1979:75.apud NACIR, 2010:18).
Para Henrique Dussel, Jeremy Bentham é quem inicia explicitamente a corrente utilitarista com a tese segundo a qual o valor fundamental é “a maior felicidade do maior número é a medida do bem ou do mal” (DUSSEL, 2000: 110). Para ele, a natureza colocou a humanidade sob o governo de dois senhores soberanos, a dor e o prazer. Somente a eles cabe dizer-nos o que deveriamos fazer e determinar o que faremos, “o prazer e a dor são as últimas instâncias de todos os nossos juízos e de todas as nossas determinações da vida” (DUSSEL, 2002: 110).
Segundo Bentham citado por Nacir, a felicidade é o bem último da acção e esta é alcançada quando maximizamos o prazer sobre a dor, “a felicidade consiste no prazer na ausência da dor” (NACIR, 2010,17). Partindo da premissa de que o prazer pode ser mais ou menos intenso e mais ou menos duradouro.
Para medir a diferença entre prazer e a dor, Bentham sugeriu um cálculo utilitário, que consiste em fazer um balanço do prazer e da dor, medidos em termos de intensidade, duração, certeza, proximidade e pureza para cada pessoa envolvida, “o prazer é algo que tem uma quantidade que se pode medir meramente em termos de duração e intensidade” (NACIR, 2010: 17). Em seguida somam-se os resultados de modo a obter o balanço final. No caso da balança final privilegiar o prazer a dor, a acção será moralmente correcta, caso contrário ela será uma acção má. Assim, “uma acção é boa quando proporciona maior prazer e menor dor, é uma acção má quando resulta em maior dor e menor prazer” (NACIR, 2010: 17).

3. Utilitarismo em John Stuart Mill


Segundo Mondim, à John Stuart Mil cabe o mérito de haver elaborado uma forma sofisticado de utilitarismo, no qual tenta coincidir o prazer individual com a utilidade da colectividade. Partindo da idéia fundamental de Bentham segundo a qual “o princípio da máxima felicidade, o fim último em razão da qual todas as outras coisas são desejáveis, é uma existência tanto quanto possível isenta de dores de mais rica possível de prazeres” (REALLE & ANTISERI, 2005: 309), Mill afirma que se deve levar em conta não somente a quantidade do prazer, mas também a qualidade , sem se esquecer, no entanto, que não deve haver contraste entre a maior feliciddae do indivíduo e a do conjunto uma vez que “é a própria vida social que nos educa, e radica em nós sentimentos desinteressados” (REALE & ANTISERI, 2005: 309). Assim, o utilitarismo altruísta de John Stuart Mill “considera mais a qualidade dos prazeres e conclui que o indivíduo, por interesse, deve finalmente querer o máximo da felicidade de todos” (DUROZOI & ROUSSEL, 2000: 380).
Segundo Mill, citado por Nacir, a doutrina utilitarista consiste nisto: “a felicidade é desejável, e a única coisa desejável enquanto finalidade; todas as outras coisas são desjáveis como meios para esse fim”. Entre a felicidade do agente e dos outros, o utilitarismo exige que o agente seja imparcial como um espectador desinteressado e benévolo” (MILL, 1961: 89. Apud NACIR, 2010: 23). Assim, o fim da acção humana constitui também o critério da moral, pois “sendo o fim último de todo o agir humano uma existência na medida do possível, livre da dor e repleta de alegria; amos os conceitos entendidos do ponto de vista tanto da quantidade como da qualidade, esse fim último do agir é necessariamente, ao mesmo tempo, critério da eticidade” (DILTHEY, 1994:45).
A prova da qualidade é a regra que serve para medir os prazeres, estabelecendo assim uma relação entre a sua quantidade e a preferência sentida. Mill, diferentimente de Bentham, afirma que se deve levar em conta não somente a quantidade do prazer, mas também a qualidade, uma vez que “é preferível ser Sócrates doente que um tolo satisfeito”. Para saber qual das suas dores é mais aguda ou qual dos dois prazeres é o mais intenso, “é preciso confiar no juízo geral de todos os que têm prática de duas e de outras” (REALE & ANTISERI, 2005: 309), acrescentado-se a auto-reflexão e auto-observação e adoptando os meios de comparação.
Enquanto o utilitarismo clássico adopta um princípio hedonista da felicidade, Mill, concordando com ele, introduz uma novidade ao afirmar que há prazeres superiores e inferiores, ou seja, há prazeres que têm mais valores que outros devido à natureza, “não obstante, deve-se admitir que os prazeres mentais são em sua maioria de maior permanência, segurança, menos custosos, etc., que os corporais... atendendo à sua natureza intrínseca” (DUSSEL, 2002, 111). Mill atribui maior importância aos prazeres do espírito: pensamento, sentimento e imaginação, pois resultam da experiência de apreciar a beleza, a verdade, o amor, etc., “qualquer destes prazeres terá mais valor e farás pessoas mais felizes do que a maior quantidade imaginável de prazeres inferiores” (AMADO, 2010: 42), prazeres inferiores seriam os ligados às necessidades físicas.
Na concepção utilitarista, útil aparece como critério da moralidade. Assim, a moraliddae das acções depende das suas consequências, se promovem ou não uma satisfação aos implicados, estando sempre em evidência a maioria, como afirma Dussel: “o utilitarismo é sumamente complexo e contém pelo menos quatro dimensões: um momento do prazer, um momento de utilidade ou critério de eficácia da acção como boa enquanto cumprimento de um meio para um fim, um momento de consequências e um efeito social” (DUSSEL, 2002: 111).
Um dos traços importantes do utilitarismo é o seu racionalismo. A moralidade de um acto é calculada, ela não é determinda a partir de um princípio diante de um valor intrínseco. Este cálculo leva em conta as consequências de um acto e avalia seu impacto sobre o bem estar do maior número de pessoas “para uma pessoa ser feliz, precisa desenvolver seus talentos, refinar seus gostos e cultivar vínculos sociais” (AMADO, 2010:45).

3.1. Contributo de Mill


Segundo Amado, Mill procurou combinar o utilitarismo com o socialismo e ressaltou o valor do altruísmo como forma de superação do egoísmo, ajudou a enfatizar a busca da felicidade, com base útil para a formação do homem social com um ideal de desenvolvimento democrata e social, como forma de reunir a maior liberdade individual de acção, com a propriedade comum igualitária para a distribuição equitativa dos benifícios do trabalho associado. Mill introduziu uma valorização qualitativa dos prazeres o que permite o estabelecimento de uma hierarquia que tem nos prazeres espirituais e bem colectivo sua realização. Os maiores bens são aqueles que servem à humanidade como um todo.



4. Crítica ao utilitarismo


Segundo Nacir, um dos mais proeminentes críticos do utilitarismo é John Rawls. Acusa-o de esquecer a justiça contentando-se com a máxima produção de bem-estar sem se importar com o seu modo de produção.
B. William e J. Griffin, acusaram o utilitarismo de ser uma teoria excessivamente ambiciosa, por exigir uma preocupação constante pelo bem-estar de toda a gente, esquecendo as lealdades, ou seja, o interesse exclusivo das pessoas mais próximas ou objectivos particulares. Assim, o utilitarismo devia aceitar a tortura de um prisioneiro como boa, se isto fosse para evitar um atentado de dimensões maiores. O valores do indivíduo torturado seriam completamente ignorados em favor da felicidade geral.
Um outro argumento crítico é acusação de que o utilitarismo deveria ser uma máquina de calcular. Há situações que exigem uma resposta rápida, onde não teriamos tempo para calcular se a nossa acção promoverá ou não maior felicidade geral. Em situações como estas o Utilitarismo não poderia nos orientar, a não ser que fôssemos uma máquina de calcular.
Para Dilthey, se se pretende manter o utilitarismo, teria que se abandonar o sistema da liberdade individual e ser substituido por um sistema de dirigismo do indivíduo até no íntimo de suas convicções, visto que a suposição fundamental do utilitarismo é a harmonia natural entre o bem estar pessoal e o comunal.

5. Conclusão

O utilitarismo de uma forma geral procura o máximo de felicidade individual e colectiva. A felicidade é entendida no sentido de maximizar o prazer e minimizar a dor. O prazer não é somente medido em termos de quantidade e prolongação, mas também em termos de qualidade. Estes constituem os pontos centrais da teoria utiltarista, especificamente de John Stuart Mill, o mais famoso dos filósofos utilitaristas que aperfeiçoam a teoria utilitarista mentorada por Jeremy Bentham.
Com o presente trabalho tomamos como consideração que o utilitarismo procura encontrar uma solução para um dos grandes problemas da existência humana, e que corresponde ao sentido da própria existência do homem: a felicidade.
O utilitarismo procura ajudar a sociedade a alcançar o patamar da felicidade desejada, sem sucumbir o indivíduo e sem incorrer em actos individualistas e egoistas. O útil proposto para o alcance da felicidade é encontrado pautando pelos caminhos da ética e da moral.













6. Bibliografia

AMADO, Madalena da Conceição, O utilitarismo em John Stuart Mill, Maputo, 2010, (Monografia apresentada à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade São Tomás de Moçãmbique, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Licenciatura, na Especialidade de Gestão de Recursos Humanos e Ética).
DLTHEY, Wlhelm, Sistema da éica, Tradução de Edson Bini, São Paulo: Icone,1994.
DUROZOI, G. & ROUSSEL, A.  Dicionário de Filosofia. Porto: Porto Editora, 2000.
DUSSEL, Enrique. Ética da Libertação: na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis. Vozes, 2002.
MILL, John Stuart. Utitlitarismo; tradução de F. J. Azevedo Gonçalves. Lisboa: Gradiva, 2005.
MONDIM, Baptista. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. São Paulo: Paulus, 2006.
NACIR, Alcino Manuel. A concepção do utilitarismo segundo John Stuart Mill. Maputo, 2010. (Monografia Científica apresentada à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da universidade São Tomás Moçambique como requisito parcial para a obtenção do Grau de Licenciatura em Filosofia na especialidade de Recursos Humanos).
REALE, Giovanni & ANTISERI, DÁRIO. História da Filosofia: do romantismo ao empirismo. São Paulo: Paulus, 2005.
VAZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.





[1] Filósofo Inlês que é considerado por muitos como o fundador do utilitarismo.
[2] Associativismo é uma doutrina segundo a qual as operações fundamentais do espírito decorrem de asociações frequentemente repetidas no decurso da experiência.

Existência da filosofia africana ou não filosofia africana!

Existência filosofia africana ou filosofia africana.

2. Objectivos
2.1. Objectivo Geral

·         Demostrar a existência da filosofia africana.

2.2. Objectivos específicos

·          Fazer uma análise da filosofia bantu.
·         Fundamentar a o pensamento africano ou filosofia africana
·         Analisar a realidade e demonstrar o legado roubado, isto é, filosofia egípcia.
.

1. Introdução
            É óbvio que existe filosofia africana, ou seja, o africano apresenta um pensamento sistemático e organizado. Apesar de existir certos críticos que não acceita ou dúvida a filosofia africana, alegando que o mesmo não existe. Pois,  a filosofia não tem só caracteristicas eurocentrica, mais também possue aspectos afrocentriticas.
            Desde do Temples buscou-se uma identidade ou afirmação da filosofia africana, apesar houveram muitas mentes preconceituosas, que não aceitaram o pensamento dos africanos como um pensamento racional, por exemplo, Hegel através da sua dialética trialógica colocava os africanos no estágio de infantilidade, cujo o seu desenvolvimento está estagnado. Também Levy-Bhrul na sua mente, os africanos são povo pré-lógica. Perante tudo isto o povo Bantu estava bem longe de ser considerada como Ser pensante.
            Assim sendo, surge algumas inquietações de forma muito explicitas: o que é filosofia? Quando que se considera o pensamento é filósofico ? existe pensamento ou filosofia africana?
Porquê a insistência da filosofia africana?
            Nas bases destas questões iremos desenvolver o nosso temas, referindo a dualidade entre a filosfica ocidental e filosofia africana. Isto analisando paulatinamente o pensamntos dos pensadores africanos e sua influência na afirmação da filosofia africana.

2. O que é filosofia?

A procura contínua do significa,  da essência, da natureza filosofia, ou seja, a pergunta o que é filosofia? A sua responda interessa ao homem, pois é muito dificil ouvir perguntas ou que é geografia? o que é matemática ou fisica? Mas muitas vezes a sua resposta (da filosofia), costuma ser dada duma forma muito ironica, absurda e sem fundamentos, por exemplo: “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, se costuma chamar de “filósofo” alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis.
A existencia da pergunta tem uma razão ser. Apesar de nossa sociedade de dar interesse no aquilo tem finalidade objectivos práticos e visiveis, como as biologia, matemática, a fisica, etc. “Por isso, ninguém pergunta para que as ciências, pois todo mundo imagina ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na aplicação científica à realidade”[1].

O termo filosofia deriva do grego phílos que vai significar "amigo" ou "amante" e sophía que também sifignifica "conhecimento" ou "saber", assim sendo, a filosofia terá muitas e tantas definições quantas são as correntes filosóficas. Por exemplo,  Aristóteles definiu a filosofia como a totalidade do saber possível que não tenha de abranger todos os objetos tomados em particular; os estóicos, como uma norma para a ação; Descartes, como o saber que averigua os princípios de todas as ciências; Locke, como uma reflexão crítica sobre a experiência; os positivistas, como um compêndio geral dos resultados da ciência, o que tornaria o filósofo um especialista em idéias gerais. Já se propuseram outras definições mais irreverentes e menos taxativas. Por exemplo, a do britânico Samuel Alexander, para quem a filosofia se ocupa "daqueles temas que a ninguém, a não ser a um filósofo, ocorreria estudar.
Marilena Chaui, dá algumas  definições de filosofia, onde ela (filosofia) é definida como visão do mundo de um povo, de uma cultura ou mesmo duma civilização, isto é, a “filosofia corresponde, de modo vago e geral, ao conjunto de idéias, valores e práticas pelos quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si mesma, definindo para si o tempo e o espaço, o sagrado e o profano, o bom e o mau, o justo e o injusto, o belo e o feio, o verdadeiro e o falso, o possível e o impossível, o contingente e o necessário”[2]. E ainda define a como sabedoria de vida, em que é relacionada com ação de algumas pessoas que pensam
“Para Hountodji a filosofia é um conjunto de textos e de discursos explicitos, literatura de intenção filosófica. Esta definição é contestável , pois a intenção não faz filosofia.”[3]




3. Filosofia Africana

É “inegavel a expectativa do conhecimento do africano (…), não se trata de colocar perguntas se o africano é um ser pensante ou tornar às categorias filosóficas e literaturas que outrora domiram o as mentes preconceittuosas do ocidente”[4]. Desde modo o ocidente não via ou mesmo vê com bons olhos a filosofia africana, pois, Hegel  coloca o pensamento africano no estágio de infantilidade, também Levy-Bhru classifica o povo africano como pré-logico e estático.
Mais com Placide Tempels, o pensamento africano começa ser divulgado com uma certa claridade, apesar de receber muita preconceituasidade pela parte do ocidente. Assim sendo, é erroneo pensar que ou dizer a priori que os africanos não têm idéias sobre as coisas, eles não têm ontologia. Placide ainda acrescenta, que a “etnologia, a lingüística, a psicanálise, a ciência do direito, sociologia e estudos religiosos não podem fornecer conclusões definitivas, após a filosofia e a ontologia do primitivo foram totalmente estudados e descritos. De fato, se os primitivos têm uma visão particular de ser e do universo, a "ontologia" vontade própria a um caractere especial, a cor local, suas crenças e práticas religiosas, seus costumes ao seu direito , suas instituições e costumes, suas reações psicológicas e, mais genericamente a qualquer comportamento.
O pensamento africano é também sistemático, reflexivo e ingador, pois através da linguagem, da religião, dos provébios sobresai o pensar do africano. Se a filosofia é definido como pensamento sistenático, reflexivo e que cria mecanismo para o bem estar, o pensamento africano não esta isanta destes pressupostos. É dai que surge a etnofilosofia, que busca clarificar o pensamento do povo primitivo, arcaicos ou tradicionais.
“A afirmação da existência da filosofia africana encontra uma elaboração sistemática”[5], pois o simples facto de afirmar que o africano é um homen, logicamente é racional e sendo racional ele possue um pensamento sistemático e possuindo este princípio de racionalidade, o seu pensamento também é racional. No agir e no pensar do africano existe uma filosofia. Desde modo, aquilo que africano produz é a filosofia. Pois para Mbiti a compreensão é uma filosofia, e africano possue esta compreensão da vida, da natureza e das coisas lhe que circunda.
Na formação da civilização grega que deu origem a filosofia, as cultutras africanas deram grande contributo para sua formação. “...os textos disponíveis sobre o antigo Egipto permitem afirmar a existência de uma autêntica filosofia que floresceu nas margens do Nilo”[6]. Desde modo o Egipto abriu caminhos para surgimento da filosofia, os antigos gregos roubaram (legado roubado, 1945 de George G. M. James) suas principais realizações culturais dos egípcios negros, a filosofia grega e as religiões misteriosas da Grécia e de Roma foram roubadas do Egipto. Pois, para George James, os gregos antigos não tinham a habilidade inata para desenvolver a filosofia.
Um dos grandes pensadores moçambicano, Castiano, faz uma crítica aos critica, ou os que dizem a não existência da filosofia africana, pois para ele, “a filosofia dos críticos parece ser uma filosofia envergonhada”[7]. Pois, eles recusam os textos orais, e esqueceram que “à boa maneira platónica que, graças a isso, conseguimos saber o que Sócrates andava a apregoar pelos mercados de Atenas”[8]. Para Anta Diop a origem da filosofia deve ser procurada em África, especial na civilização egípcia, ou seja, o lugar que a Grécia ocupa na história do pensamento científico filosófico, deveria ser ocupado pelo Egipto antigo. “O que a Grécia explorou mais do Egipto foi porém o campo de ideias, particularmente o das ideias filosóficas. Começa-se, por exemplo, pelos nomes dos deuses gregos que foram emprestados do Egipto, seguindo-se também os conceitos, as conexões entre os conceitos e até ambiente”[9].
            Castiano na sua obra referenciais da filosofia africana, salienta que é preciso desmitificar por exemplo, o mito de que Grécia é o berço do saber universal mostrando como muitos gregos tiveram ímpeto de viajar para o Egipto porque consideravam, naquela altura, este território como a fonte do saber e do conhecimento.
            Se nós falamos dum pensamento racional dos antigos egípcios, concluímos que sempre existiram os pensadores africanos com um certo nível de desenvolvimento reflexivo como o logos helénico, isto em diversos campos de saber e de ser. 

3. Conclusão

A existência da filosofia africana é dado bem adquerido, não há dúvidas da afirmação do povo africano como um posso que possue um pensamento bem sistematizado e desenvolvido, onde o nivel e intelectual e discursivo é bastante elevado.
A filosofia africana tem os mesmo estatutos epistemológicos tal como da filosofia helenica, já referia Ferrreira na sua análise sobre o pensamento do africano. A filosofia africana de ser vista como as outras filosofias, isto é, do filosfia ocidental.
O pensamento africano tem uma referência subjectiva e objectiva, pois é preciso desmitizar que africa não possue filosofia ou negação da filosofia africana. E este é o tempo de colocar as ideias africanas no centro de qualquer análise que envolve a cultura e o comportamento africano, (afrocentrismo).
A filosofia africana apresenta caracteristicas bem explícita e analítica, desde modo é erroneo considera-la como pré-lógica, sem fundamento ou sem referências, no agir ou na acção do africano existe bem patente o aspecto da filosfia
Devemos lutar para validação da oralidade, pois este marco é muito relevante na filosofia africana, pois existe grandes conhecimento no na filosofia helenica, que fora passado através da oralidade.

5. Bibliografia

CASTIANO, José P. .(2010) Referenciais da filosofia africana: em busca da intersubjectivação. Ed. Ndjira, 1a ed. Maputo.
 CHAUI, Marilena.(2005). Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo.
FERREIRA, Alberto João. Texto de apoio, História do pensamento africano moderno.
SEVERINO, Elias Ngoenha. (1993). Das independências às liberdades, Ed. Paulistas, Maputo.







[1] CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2005, p. 15.
[2] Ibidem, p. 16.
[3] SEVERINO, Elias Ngoenha. Das independências às liberdades, Ed. Paulistas, Maputo, 1993, p. 102.
[4] FERREIRA, Alberto João. Texto de apoio, História do pensamento africano moderno, p. 2.
[5] Ibidem, p. 40.
[6] SEVERINO, Elias Ngoenha. Das independências às liberdades, Ed. Paulistas, Maputo, 1993, p. 101.
[7] CASTIANO, José P. Referenciais da filosofia africana: em busca da intersubjectivação. Ed. Ndjira, 1a ed. Maputo, 2010, p.117.
[8] Ibidem
[9] CASTIANO, José P. Referenciais da filosofia africana: em busca da intersubjectivação. Ed. Ndjira, 1a ed. Maputo, 2010, p.141.