terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Os desafios para ensinar e aprender, valendo-se da experiência e do Racionalismo Crítico em Dewey e Popper: dois métodos no ensino – aprendizagem

1. Introdução


Pretende-se com este ensaio analisar o pensamento de dois pensadores que com o seu pensamento influenciaram e influenciam o passado e o presente e na perspectiva que desenrola este ensaio podem ser um grande contributo para o futuro da Educação aqui em Moçambique, de modo que seja mais participativo e mais proactivo, Dewey com o seu método pragmático ou melhor instrumentalismo e Popper com o seu falsificacionismo.
Enquanto John Dewey (1859-1952), americano, mas de família proveniente da Inglaterra e professando a fé congregacionalista. Passou toda a sua vida no mundo americano e o seu pensamento podemos dizer que é forjado dentro da família e na Igreja. Senão vejamos: os congregacionalistas defendiam a autonomia para os membros de suas igrejas, não havia ordem hierárquica para nortear as relações dos fiéis. Havia um Espírito de Igualdade, os ministros eram eleitos, o que poderíamos interpretar como uma forma de democracia religiosa. Instigavam a presença de Cristo nos indivíduos para que então a consequência fosse a solidariedade. Podemos dizer que, da religião, o que influenciou Dewey não foi tanto a teologia, mas experiência democrática e igualitária vivenciada na comunidade. Outro elemento que contribuiu para o forjamento do pensamento de Dewey é o facto de na sua família cultivava-se o hábito de atribuir pequenas tarefas às crianças, com o intuito de despertar-lhes responsabilidade (CUNHA, 1998).
Entretanto Karl Popper (1902-1994), Austríaco, os seus dados bibliográficos apontam que 1937 emigrou para a Nova Zelândia e em 1946 foi viver para Inglaterra até a sua morte. Educado na Universidade de Viena, cedo começou a participar no Círculo de Viena e activista socialista que contestava a esquerda austríaca no conturbado Pós-guerra. É neste ambiente de socialista, de um emigrante e sobretudo do circulo de Viena que se forja o pensamento de Popper. O Círculo de Viena orientava-se pelo liberalismo: as ideias iluministas, o empirismo, o utilitarismo, o espírito antímetafísico e o movimento do livre comércio na Inglaterra. Defendiam que o método científico era indutivo. Partindo-se de enunciados singulares, resultantes de descrições de observações, chega-se (induz-se) enunciados universais. É contra este método da indução que Popper vai criticar, dizendo que não é o método das Ciências. Critica também o materialismo histórico ou o historicismo de Marx. Não se deve deixar de salientar que o seu trabalho científico foi influenciado pelo seu estudo da teoria da relatividade de Albert Einstein (HACOYEN, 2000).
Partindo das percepções acima apresentadas, prende-se realizar uma discussão e confrontação entre Dewey e Popper dois teóricos da Educação: Dewey que diz que o conhecimento provém da experiência e Popper que diz não nenhuma verdade é absoluta, tudo deve ser submetido a sua teoria da falsificabilidade. Propondo a análise de duas categorias: a experiência e a reflexão, essenciais para a prática da democracia e da liberdade no ensino - aprendizagem e na sociedade, tornando o ensino reflexivo – prático.
A apresentação destes autores aparece como contributo ao nosso ensino em Moçambique para que seja proactivo, pois é frequente ouvir-se que o contributo dos formandos faz-se sentir pouco na vida prática. Inclusive, o próprio governo tem enfatizado na necessidade de incidir no carácter prático do ensino, deixando entender, indirectamente, que o actual ensino é muito teórico. Acusa-se que os estudantes são formados a serem empregados do que empregadores. São poucos empreendedores. O problema torna-se mais grave quanto mais se consideram os estudantes muito apegados à teoria, ignorando o lado prático, enquanto outros muito apegados à prática sem conseguir fazer um entrosamento dos dois pólos de conhecimento. Acredita-se como solução que, a associação dos dois tipos de conhecimento, o teórico e o prático, ajudará a mudar muita coisa no seio da nossa sociedade, sobretudo no que diz respeito à integração no mercado sócio-económico. Não se explica que com tantos quadros que começam a surgir em Moçambique se esteja muito longe de encontrar soluções adequadas para a crítica situação sócio-económica em que o País se encontra.
A política económica do governo define a agricultura como o principal vector do desenvolvimento e fonte de riqueza de Moçambique: “As acções no sector da agricultura são preponderantes para o alcance do objectivo do Governo de reduzir a pobreza absoluta no país, dado que é o sector predominante nas zonas rurais, onde se registam os maiores índices de pobreza absoluta” (GOVERNO DE MOÇAMBIQUE, 2006: nº 523). A terra não nos falta. Em princípio, quem deve ajudar o povo a produzir, deveriam ser os nossos agrónomos. Se não o fazem, poder-se-á, concluir que há um défice na sua formação? Não necessariamente, pois há outros factores envolvidos.

2. Dewey: Escola Activa e democrática pelo conceito da experiência

John Dewey aponta o método científico como o principal instrumento ao serviço do conhecimento que deve exigir, de quem o deseja, esforço, dedicação e a procura sistemática. A adopção desse instrumento justifica-se por duas razões principais: a primeira liga-se ao facto de o método afirmar que não temos “direito por direito” de chamar alguma coisa de conhecimento, excepto quando a nossa actividade produziu mudanças físicas nas coisas, as quais concordam com a concepção adoptada e a confirmam. Ao contrário, os conhecimentos que dizemos possuir, não passam de hipóteses, conjecturas e sugestões.
A segunda razão que justifica a adopção do método científico é que o pensamento é útil exactamente no grau em que a previsão de consequências futuras é feita baseada na observação completa das condições presentes. Ocorre que isto exige muito dos homens quando eles ainda querem o apoio do dogma, das crenças impostas pela autoridade, para se livrarem do embaraço de ter de pensar e responsabilidade de dirigir sua actividade pela reflexão. É por essa razão que as escolas mais se prestam a formar discípulos dos pesquisadores.
Mas é certo que todo o progresso da influência no método experimental contribui para o descrédito dos métodos puramente literários, dialécticos ou de imposição pela autoridade. É assim que Dewey procura colocar ao serviço da educação e do ensino a sua metodologia: a compreensão científico-instrumental da realidade, tendo como objectivo superar a dicotomia entre a teoria e a prática.
Paralelamente ao reconhecimento de que os homens têm dificuldades para adoptar o método científico, Dewey declara falta de liberdade económica da maioria, exposta na divisão entre classes trabalhadoras e não trabalhadoras. Isto reduz muitos homens à condição servil. A partir disso, Dewey pensa a liberdade na escola que foi a instituição que patenteou com maior clareza o antagonismo que se presumia existir entre os métodos de ensino puramente individualistas e a actividade social, e entre a liberdade e a disciplina social.
O antagonismo deve-se à ausência de ambiente e motivos sociais para aprender, e na consequente separação na prática escolar entre o método do ensino e métodos da administração.
Dewey manifesta-se contrário à ideia de que o indivíduo é a realidade mais essencial, por não ser resultado da educação científica e moralmente sólida. O individualismo decorrente é fruto do afrouxamento da compreensão da autoridade dos costumes e tradições como padrões de crenças e certezas.
Preocupado com a tensa relação entre disciplina e liberdade, expõe a problemática a partir da reflexão em torno do ordenamento lógico do pensamento. Toma como ponto de partida duas concepções diferentes: uma que considera essencial a disciplina e outra que tem liberdade na organização dos processos formativos.
O autor entende que cada uma delas tem noção errada do que significa o princípio que professa. Dewey diz que “a disciplina pode ser identificada: aos actos mecânicos que têm por fim embutir com repetidas pancadas, uma substância estranha num material resistente, ou comparável à rotina maquinal com que se emprestam a bisonhos recrutas o porte e os hábitos marciais que lhes eram, como de esperar, totalmente alheios” (DEWEY, 1959: 92).
Para Dewey esta reflexão aponta a direcção contrária à disciplina mental, pois o objectivo, nesse caso, não é desenvolver o hábito de pensar, mas atingir maneiras de agir uniforme. Para Dewey a disciplina é positiva e construtivista. Disto se depreende que Dewey desafie a disciplina a sair de si mesma e a concretizar-se num outro, diferente de si, a concretizar-se numa acção não só mental, mas também pragmática. Portanto, ele fala de uma abertura pragmática que implica uma conjugação multiforme dos saberes.
Na perspectiva da formação da liberdade intelectual, Dewey desenvolve uma reflexão actualizada sobre interesse e disciplina, ao discutir a tese de que disciplinado é o indivíduo que se forma aprendendo a exercitar a reflexão sobre as suas acções e empreendê-las de maneira resoluta.

Disciplina significa o domínio dos recursos disponíveis para levar em diante a actividade empreendida. Saber o que se deve fazer e fazê-lo prontamente e com a utilidade dos meios requeridos, significa ser disciplinado. A disciplina positiva é uma afirmação que permite concluir que não há valor educativo em actos impostos ou nos exercícios externos como domar as propensões, compelir à obediência, mortificar a carne, fazer um subalterno executar um trabalho desagradável, a menos que desenvolvidas na perspectiva da compreensão do que se tem em vista (DEWEY, 1979: 141).”

Dewey fala da necessidade de evitar os preconceitos, a arrogância do saber tido certo, é preciso ter o “espírito aberto”. Esta ideia pode ser definida como independência de preconceitos, de partidarismo e de outros hábitos como o de cerrar a mente e indispô-la à consideração de novos problemas e novas ideias.

“A indolência mental concorre grandemente para que se entaipe o espírito contra ideias novas. E bem penoso trabalho é de alterar velhas crenças. Medos inconscientes também arrastam-nos a atitudes puramente defensivos, que funcionam como cota de armas, não apenas para barrar novas concepções, mas para impedir a nós próprios o acesso à nova observação. O efeito cumulativo dessas forças é o de enclausurar o espírito e promover o afastamento de novos contactos intelectuais, necessários à aprendizagem” (DEWEY, 1959: 39).

Pode-se concluir, que para Dewey, só haverá uma verdadeira aprendizagem, se houver uma metodologia que estimule o aluno. O pensamento deve ser liberal, ou por outra, deve ser uma escola democrática que ajuda o aluno no desenvolvimento da capacidade de raciocínio e espírito crítico. Nisto, o professor deve ser um mero tutor, um facilitador na aprendizagem, devendo possibilitar escolhas e soluções criativas. É preciso problematizar o ensino, que leve o aluno a uma aprendizagem significativa, pois o mesmo utiliza diferentes processos mentais e desenvolve a capacidade de assumir a responsabilidade pela sua formação.
A educação não se deveria restringir ao ensino do conhecimento como algo acabado, mas o saber e a habilidade adquiridos pelo aluno deveriam poder ser integrados à sua vida como cidadão, pessoa e ser humano. Devia ser uma educação progressiva, mais pragmática, concreta que o projecta ao empreendedorismo e ao mercado de emprego.
A origem da ciência está nos problemas que estão associados à explicação de comportamento de alguns aspectos do mundo. As hipóteses são criticadas e comprovadas. O método de aprendizagem por solução de problemas tem os seus alicerces no pragmatismo de John Dewey. Este filósofo estava interessado em que o ensino não fosse teórico, mas respondesse aos problemas concretos do estudante. Fala duma escola democrática em que o estudante é o protagonista do seu saber. O estudante deve aprender a aprender. O princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. O conhecimento só é possível partindo da experiência.
Dewey defende as actividades manuais, já que as mesmas apresentam situações concretas para serem resolvidas. E além do mais desenvolve o espírito de trabalho em equipa, pois através da divisão de tarefas entre os estudantes, se estimula a cooperação e consequentemente se desenvolve o espírito social (DEWEY, 1980: 27). O estudante é o fazedor do seu próprio processo de aprendizagem. É este aspecto pelo qual o método cativa algumas instituições do ensino superior, disseminando-se em muitas instituições de educação.
A origem da ciência está nos problemas que estão associados à explicação de comportamento de alguns aspectos do mundo. As hipóteses são criticadas e comprovadas. O método de aprendizagem por solução de problemas tem os seus alicerces no pragmatismo de John Dewey. Este filósofo estava interessado em que o ensino não fosse teórico, mas respondesse aos problemas concretos do estudante. Fala duma escola democrática em que o estudante é o protagonista do seu saber. O estudante deve aprender a aprender. O princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. O conhecimento só é possível partindo da experiência.
Dewey defende as actividades manuais, já que as mesmas apresentam situações concretas para serem resolvidas. E além do mais desenvolve o espírito de trabalho em equipa, pois através da divisão de tarefas entre os estudantes, se estimula a cooperação e consequentemente se desenvolve o espírito social (DEWEY, 1980: 27). Tornar o estudante  fazedor do seu próprio processo de aprendizagem. Neste sentido, o pragmatismo aparece como o método que valoriza a experiência como ponto de partida para o conhecimento. As concepções preliminares são contextualizadas na prática, daí que se define o pragmatismo como doutrina que propõe um método para determinar o significado dos termos fundamentais da linguagem a partir da sua contextualização prática. Entre os mentores desta doutrina sobressai John Dewey, que prefere chamar a sua filosofia de instrumentalismo e não pragmatismo. Ele diz que:

“Nas ciências naturais há uma união entre experiência e natureza que não é recebida como monstruosidade; pelo contrário, o pesquisador é obrigado a utilizar o método empírico para que os resultados da pesquisa sejam considerados genuinamente científicos. O pesquisador assume como ponto pacífico que a experiência, controlada de maneira específica, é avenida que conduz aos factos e às leis da natureza” (DEWEY, 1980: 3s).

O princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. A aprendizagem se dá quando compartilhamos experiências, e isso só é possível num ambiente democrático, onde não haja barreiras ao intercâmbio do pensamento. O conhecimento só é possível partindo da experiência.
Dewey defende as actividades manuais, já que as mesmas apresentam situações-problemas concretos para serem resolvidos. E além do mais desenvolve o espírito de se trabalhar em equipa, pois através da divisão de tarefas entre os participantes, se estimula a cooperação e, consequentemente, se desenvolve o espírito social. Para Dewey, a experiência ajuda a alargar os nossos conhecimentos, “enriquece o nosso espírito” e dá, ao nosso quotidiano, um significado mais profundo da nossa vida (DEWEY, 1980: 116). Segundo Dewey, a iniciativa e a independência levam à autonomia que na realidade são virtudes de uma sociedade realmente democrática, ao contrário do ensino tradicional que valoriza a obediência. Mas para que isso se torne realidade nas escolas, é necessário repensar os métodos educacionais utilizados pelos professores na sala de aula e na formação dos mesmos.
Há uma necessidade de reflectir sobre as metodologias adoptadas. Salienta que “logo, para dirigir o processo educativo devemos saber: 1.º) como aprendermos; 2.º) como o que aprendemos refaz e reorganiza a nossa vida; 3.º) em que consiste uma vida melhor, mais rica e mais bela” (DEWEY, 1980: 127).
Dewey investigou a experiência em seu aspecto essencialmente dinâmico: toda a experiência modificada ocorre pelo meio, concepção que leva o autor a admitir a existência de processo contínuo de criação de conexões e continuidades, propiciando permanentes recriações dos elementos envolvidos.
Defensor da Escola Activa, Dewey apontou a importância da aprendizagem partindo da experiência. Da crítica à escola tradicional, instauradora de comportamentos de submissão e obediência, o autor propôs uma inversão de valores que considerasse iniciativa, originalidade e cooperação, possibilitando a libertação das potencialidades críticas do indivíduo, objectivando não a mudança social, mas o aperfeiçoamento.
Dewey desenvolveu teorias pedagógicas progressistas, particularmente em relação à inserção do estudante, sujeito no processo de aprendizagem, à discussão em torno da importância fundamental da democracia na organização social e à defesa da escola pública.
Das suas concepções, Dewey desenvolve um método de compreensão da realidade denominado instrumentalismo: “o que leva o homem ao conhecimento não é um fim em si mesmo, mas a necessidade de apropriação da realidade. O pensamento não é, em última instância, saber, mas apropriação instrumental para ter domínio sobre as coisas. O meio impõe dificuldades, mas o pensamento humano serve de instrumento à sua adaptação” (DEWEY, 1980: 128ss).
A verdade, a razão da busca do pensamento, é o que leva o homem a superar problemas, bases que fazem Dewey produzir ampla reflexão política, particularmente em relação aos fundamentos filosóficos, que justificam a valorização da experiência educativa e sobretudo a ligação quase intrínseca entre a vida, a experiência e a aprendizagem.


3. Popper: Dos Problemas ao racionalismo crítico

Popper demonstrou que toda a ciência é baseada em conjecturas, de hipóteses que tentamos confirmar mas também refutar. A ciência não é verdadeira, mas conjecturável. Uma experiência cujo resultado é previsto por uma teoria, não prova a exactidão dessa teoria, mas apenas se limita a não a refutar. A confirmação experimental não serve como prova de verdade, dado que pode estar a ser omitida uma excepção fundamental. Encontrar uma única excepção é, todavia, o bastante para reprovar - ou falsear -uma teoria. Uma teoria só é científica se a pudermos refutar. A principal tarefa de um cientista não é pois o de justificar ou provar as suas teses, mas sim o de as testar de forma a detectar ou eliminar falhas ou erros que possam conter (testabilidade), ou submetê-las a tentativas de refutação (falsificabilidade). Só através de um racionalismo crítico e aberto se dá, segundo Popper, o progresso no conhecimento científico.
Enquanto para Popper o problema central da filosofia reduz-se em grande parte àquilo que designa de “problema de demarcação”, isto é, a tentativa de estabelecer um critério que permita distinguir as teorias científicas da metafísica e pseudo-ciência. Popper refere claramente que o problema que o preocupa não é determinar quando é verdadeira ou aceitável uma teoria, mas, sim, distinguir a ciência da pseudo-ciência, sabendo muito bem que por vezes a ciência erra e a pseudo-ciência acerta.
A ciência distingue-se da pseudo-ciência ou da metafísica pelo seu método empírico, que é essencialmente indutivo, isto é, que parte da observação ou da experimentação. Para Popper uma teoria que não é susceptível de refutação não é considerada científica. A irrefutabilidade não é uma virtude mas sim é um vício. Neste sentido a testabilidade equivale a refutabilidade. O critério de refutabilidade imposto por Popper consiste em traçar uma linha divisória entre o discurso científico e outros tipos de conhecimentos.
As afirmações de carácter metafísico não possuem estatuto científico na medida em que não são susceptíveis de ser falsificadas, o seu carácter de sentido ou significação não é posto em causa. É este facto que nos permite diferenciar Popper das posições assumidas pelos autores do positivismo lógico. A ciência progride graças ao ensaio e ao erro, às conjecturas e refutações. Com isto Popper distancia-se do método instrumentalista que quer apresentar-se como acabado e completo.
O método da ciência é o método de conjecturas audazes e engenhosas seguidas de tentativas rigorosas de falseá-las. Segundo o falsificacionismo, pode-se demonstrar que algumas teorias são falsas recorrendo aos resultados da observação e experimentação.
O falsificacionista considera que a ciência é um conjunto de hipóteses que se propõem a modo do ensaio com o propósito de descobrir ou explicar de modo preciso o comportamento de algum aspecto do mundo ou universo.
As teorias que tenham sido falsificadas têm de ser rejeitadas, visto que, como afirma Popper, ao descobrimos que a nossa conjectura era falsa, aprendemos muito sobre a verdade e chegaremos mais perto dela. Aprendemos com os nossos erros, pois a ciência progride mediante o ensaio e o erro.
A ciência começa com problemas, problemas que estão associados à explicação de comportamentos de alguns aspectos do mundo. O cientista propõe hipóteses falsificáveis para solucionar os problemas. As hipóteses são criticadas e comprovadas. Popper acredita que o papel do filósofo, assim como do cientista, seja o de solucionar problemas em vez de falar sobre a filosofia. Filósofos devem filosofar.
Há uma condição fundamental para que qualquer hipótese tenha o estatuto de teoria científica, essa teoria tem de ser falsificável. Uma teoria ou lei científica é falsificada justamente porque faz afirmações definidas acerca do mundo. Por isso nunca se pode afirmar que uma teoria é verdadeira, por muitas provas rigorosas que tenha superado, somente podemos afirmar que a teoria em vigor é superior as predecessoras.
No dizer de Popper só há um caminho para a ciência: encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonar-se por ele, casar e viver feliz com ele até que a morte nos separe, a não ser que obtenhamos uma solução.
A afirmação de que a origem da ciência está nos problemas é perfeitamente compatível com a prioridade das teorias sobre a observação e os enunciados observáveis. A ciência não começa com a pura observação. A concepção falsificacionista proporciona uma imagem dinâmica da ciência. O falsificacionista reconhece as limitações da indução e a subordinação.
Para este filósofo, para que se chegue a um princípio científico válido é necessário que se verifique a hipótese apresentada (POPPER, 1975: 278). Para isso, é necessário experimenta-la. Para ele, a ciência é invenção de hipóteses; e a experiência desempenha o papel de controlo das teorias (VERDONE, 1999: 37). Popper faz-nos perceber o quão é tão necessária a junção entre a teoria e a prática para se chegar a um conhecimento altamente eficaz; tudo isto com o objectivo de mostrar a relação estrita existente entre teoria e a prática, a necessidade da teoria e do agir prático para se chegar à produção de uma verdade válida universalmente. Popper afirma que uma teoria será uma verdade científica enquanto não for negada – falseada. Mas precisa, por isso mesmo, apresentar a possibilidade de ser negada, como condição para ser científica. Assim, toda verdade científica é uma verdade provisória, que precisa ser testada. E enquanto tais testes não forem capazes de negá-la, ela continuará sendo uma verdade sem, contudo, “se livrar” da possibilidade de ser, a qualquer tempo, negada. No modelo popperiano, teste é experimentação. Ciência, portanto, é teoria mais experimentação. Sua preocupação é eliminar da ciência o psicologismo indutivista, buscando explicar os fenómenos, não descobrir a verdade por trás deles, como queria, por exemplo, o Circulo de Viena. Para Popper, a ciência não pode nem partir da verdade absoluta, nem a ela chegar como resultado de suas investidas. Contudo, isso não a impossibilita como forma de produzir conhecimento de procurar é a verdade demonstrada (POPPER, 1975: 300).



4. Dewey e Popper: considerações finais sobre o conceito experiência e racionalismo crítico


Concluindo, tanto o pragmatismo como o falsificasionismo convidam a uma reflexão sobre a metodologia usada para o ensino - aprendizagem.
Com a sua teoria da falsificabilidade ou princípio da falsificabilidade Popper faz-nos entender melhor a conjugação entre a ideia ou teoria com o agir prático. Popper nos inspira à urgência de termos um ensino crítico, reflexivo, avaliativo e experimental, como forma de poder-se chegar a uma aprendizagem que capacite o estudante a, com muita facilidade e eficácia, ser capaz de responder aos desafios actuais da humanidade. Para o estudante, nenhum conhecimento, nenhuma verdade científica que seja, deve constituir o fim e o saber absoluto, mas deve, sim, conduzir a uma pesquisa, a uma investigação ininterrupta, deve suscitar crítica e reflexão, com o objectivo de se chegar a uma verdade que o torna apto para contribuir proactivamente para a sua sociedade.
A descrição acima permite afirmar que o tempo e o espaço condicionam as tendências pedagógicas. As pedagogias devem responder às necessidades existenciais do ser humano, sob o risco de estarem desenquadradas. A pedagogia não é um processo acabado. Este trabalho é uma provocação para uma reflexão constante dos métodos usados na aprendizagem.
De acordo com Dewey podemos definir educação como processo de reconstrução e reorganização da experiência e com isso nos habilitamos  a melhor dirigir o curso de nossas experiências futuras. A continua reorganização e reconstrução  da experiência constitui o mais particular da vida humana. Essa reconstrução em que consiste a educação tem por fim melhorar pela inteligência a qualidade da experiência. Analisando-a mentalmente, percebendo as relações que ela nos desvenda, ganhamos os conhecimentos necessários para dirigir, com mais segurança, nossas experiências futuras.
Considera-se que, conhecimento, experiência, educação não é, preparação nem conformidade, é vida. E viver é desenvolver-se, é crescer. O processo educativo, portanto, não tendo outro fim alem de si mesmo, é o processo de continua reorganização, reconstrução e transformação da vida. O hábito de aprender directamente da própria vida é fazer que as condições da vida sejam tais que todos aprendam no processo de viver, é o produto mais valioso que a escola pode alcançar. Toda a teoria de educação de Dewey insiste, como ponto principal, na restituição da aprendizagem ao carácter natural que ela tem na vida.
Para Popper a ciência começa com problemas, problemas que estão associados à explicação de comportamento de alguns aspectos do mundo. O cientista propõe hipóteses falsificáveis para solucionar os problemas. As hipóteses são criticadas e comprovadas. Acredita que o papel do filósofo, assim como do cientista, deve ser de solucionar problemas em vez de falar sobre a filosofia. Filósofos devem filosofar. Podemos então dizer que o racionalismo é uma atitude de predisposição para ouvir raciocínios críticos e aprender com a experiência.
Popper acredita que o papel de filósofo assim como do cientista é o de solucionar os problemas em vez de falar sobre a filosofia ou ciência. A filosofia começa com problemas e deve responder aos problemas.
A origem da ciência está nos problemas que estão associados à explicação de comportamento de alguns aspectos do mundo. As hipóteses são criticadas e comprovadas. O pragmatismo de John Dewey, ressalva o facto de o ensino não ser mais teórico, mas que  responda aos problemas concretos do estudante. Fala duma escola democrática em que o estudante é o protagonista do seu saber. O estudante deve aprender a aprender. O princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. O conhecimento só é possível partindo da experiência.
Dewey defende as actividades manuais, já que as mesmas apresentam situações concretas para serem resolvidas. E além do mais desenvolve o espírito de trabalho em equipa, pois através da divisão de tarefas entre os estudantes, se estimula a cooperação e consequentemente se desenvolve o espírito social (DEWEY, 1980: 27). O estudante é o fazedor do seu próprio processo de aprendizagem. É este aspecto pelo qual o método cativa algumas instituições do ensino superior, disseminando-se em muitas instituições de educação.
Popper leva-nos a aprofundar mais os nossos conhecimentos. Para ele a ciência só progride mediante o ensaio e o erro. O estudante é participante da sua aprendizagem.

“Podemos então dizer que o racionalismo é uma atitude de predisposição para ouvir raciocínios críticos e aprender com a experiência. É fundamentalmente uma atitude em que se admite que eu posso estar errado e tu podes estar certo, e com um esforço, poderemos aproximar-nos da verdade (POPPER, 1962: 222).”

Estes autores conduzem-nos à síntese dos dois modos de aprendizagem, visto que nenhuma verdade é absoluta. Assim sendo, nem a aprendizagem prática em si e nem a aprendizagem teórica em si, mas optaremos pela conexão entre as duas. Desmitificando, deste modo os que associam o ensino somente a teoria ou a prática, porque tanto uma como outra levam-nos ao reducionismo.

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